A Serra

“Examinando a nossa Carta Hipsométrica, vemos destacar-se na metade setentrional do País, logo a seguir à serra da Estrela, uma zona de relevo com altitude máxima de 1382 m, de forma grosseiramente triangular, compreendida entre o Douro, o seu afluente Paiva e uma linha quási recta tirada de Castro Daire por Lamego em direcção à Régua.” É assim que Amorim Girão define a Serra do Montemuro, aquela à que chamou, há muitos anos, “a mais desconhecida Serra de Portugal”.

E ainda o continua a ser. Local onde ainda se realiza a quase ancestral prática da transumância, onde gados deslocados da serra da Estrela vêm pastar por entre campos e matos em plena serra.

A serra encontra-se povoada, com aldeias até cerca dos 1.100 metros de altitude. Atendendo à elevada altitude, a serra é brindada com invernos longos e rigorosos, onde a neve é presença assídua, e com verões quentes e secos, carecterísticos das zonas altas de montanha. É desta forma, e nestas formas que, na aldeia do Mezio, nasceu em 1997 a Ervital - Plantas Aromáticas e Medicinais, Lda.

Por ser ainda uma das mais desconhecidas serras do País, o seu estado atual de conservação encontra-se em bom estado, salvo incêncidos florestais, que são um dos maiores perigos, no que à conservação diz respeito, a Serra do Montemuro, faz parte da 1ª fase da lista nacional de sítios da Rede Natura 2000. Está classificada como BIÓTOPO CORINE. Na descrição que o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) faz, destaca-se a grande biodiversidade, resultado do bom estado de conservação dos vários tipos de habitat que aí se encontram representados – alguns deles de considerável valor conservacionista, como as turfeiras activas (habitat prioritário) e mais concretamente a vasta comunidade de vertebrados, da qual fazem parte inúmeras espécies com estatuto de ameaça, como, por exemplo, o lobo (Canis lupus). De acordo com Censo Nacional de Lobo 2002-2003, a Serra de Montemuro é um dos últimos refúgios desta espécie a sul do Douro.

Existem praticamente em toda a serra, diversas espécies de aves, como por exemplo: as perdizes (Alectoris rufa), galinholas (Scolopax rusticola), águia de asa redonda (Buteo buteo), pombo-trocaz (Columba palumbus), melro preto (Turdus merula), mocho d´orelhas (Otus scops), tentilhão comum (Fringilla coelebs), estorninho preto (Sturnus unicolor), rouxinol comum (Luscinia megarhynchos), mas para além destas aves existe muitas outras. Em toda a serra são comuns mamíferos, como os musaranhos (Crocidura sp.), a toupeira (Talpa occidentalis), o coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus), a fuinha (Martes foina), a lebre (Lepus granatensis), a raposa (Vulpes vulpes), javali (Sus scrofa), doninha (Mustela nivalis), texugo (Meles meles). Na serra existem também a ameaçada víbora cornuda (Vipera latastei), que é umas das duas únicas cobras venenosas perigosas que ocorrem em Portugal.

Por ser um local com um bom estado de conservação, continuam presentes espécies endémicas da península ibérica, tanto na fauna como na flora, como são os casos do lagarto de água (Lacerta schreiberi), com as suas 3 cores características, orquídea silvestre ou a arnica montana. Também a borboleta-azul (Maculinea alcon), ocorre com frequência na serra, espécie ameaçada, mas que encontra no Montemuro um dos locais com população mais estável, muito devido à necessidade da presença da sua planta hospedeira, a genciana.

A flora de toda a Serra de Montemuro é bastante rica. Nas encostas da serra predominam as espécies autóctones desta região, com destaque para o carvalho negral (Quercus pyrenaica), com as suas características folhas aveludadas, o carvalho-roble ou carvalho-alvarinho (Quercus robur) o castanheiro (Castanea sativa), sendo que este último nunca aparece acima dos 1.000 metros. Nas margens dos ribeiros predominam o amieiro (Alnus glutinosa), o salgueiro (Salix spp.), a borrazeira branca (Salix salvofolia), a borrazeira preta (salix atrocinerea) e o freixo (Fraxinus angustifolia), o azevinho (Ilex aquifolium), que é uma espécie rara e protegida, o amieiro e o salgueiro. Na “Crista da Serra”, acima dos 1000 metros, encontra-se uma vegetação arbustiva, onde predominam o tojo (Ulex spp) e as urzes, como a urze vermelha (Erica australis), a urze branca (Erica arborea), a queiró (Erica umbellata), sargaço branco (Cistus psilosepalus), a giesta branca ou giestas das serras (Cytisus multiflorus), e os fetos (Asplenium spp.). As espécies arbóreas variam consoante a formação geológica.

É característico nesta parte da serra, as árvores estarem revestidas de líquens, indicador do bom estado de conservação da Serra, bem como da excelente qualidade do ar e solo, no geral sem poluição.